Por que a convivência entre crianças e cães requer atenção?

Saiba o que é importante do ponto de vista profissional, da criança e do doguinho!

Crianças amam pets e ajudar os peludos a desenvolver uma relação saudável com eles é um processo que deve-se dedicar tempo. A chegada de um filhote em uma família com presença de crianças pode ser um desafio. Afinal, é nessa fase que o cão começa a perceber o ambiente a seu redor e a criar comportamentos que irão lhe acompanhar em sua vida adulta.

Entender como o cão se comunica e ajudá-lo a se habituar com o convívio de humanos é essencial para um relacionamento saudável na família multiespécie.

O processo de socialização com crianças é uma das técnicas que ajudam os filhotes a se desenvolverem na presença deste pequenos. Aqui na Dog Adventure realizamos uma atividade de enriquecimento e vinculação com crianças, onde usamos processos lúdicos para gerar uma associação positiva entre eles. Isso ajuda os doguinhos a se acostumarem com a energia mais agitada das crianças, seu tom de voz e toque.

Os benefícios para o filhote:
  • Fortalece comportamentos saudáveis para a vida adulta
  • O cão aprende a descriminar o que é correto e tem recursos de outros comportamentos mais apropriados para que possa interagir melhor com o convívio humano
  • Se habitua com a presença da criança no ambiente (sons, velocidade de movimento e outras particularidades)

E o aprendizado não é só para nossos AUlunos, durante a socialização ensinamos as crianças a respeitarem os cães e até lerem alguns sinais de comunicação que os cães dão!

O papel da criança nessa relação:
  • Perceber sua expressão corporal,
  • Como manter o autocontrole sobre as emoções,
  • Adequar a postura e a maneira de olhar e falar com o cão
  • Respeitar os limites e realizar a aproximação apenas com a permissão do cão
  • Conscientização sobre comportamentos que não devem ser endossados (como a mordida por exemplo – é preciso direcionar o cão para outra brincadeira o ambiente)

Entrevista com nossos monitores mirins

O que te faz gostar de cães?

– Quando a gente tá entediado, ele brinca com a gente e dá mais alegria. Ele tambem protege a casa.

Você sente algum medo quando um cão de médio/grande porte se aproxima?

-Quando rosna, sim. Só quando rosna ou late. Eu já corro. Mas aí que ele corre atrás.

Que tipos de brincadeiras você gosta de praticar com os cães?

– Adestramento, bolinha, brincar na piscina. E brincar na chuva.

Você entende que os cães também tem emoções?

– Sim, quando ele rosna é porque não quer que faça alguma coisa. Quando eles cheiram é como se tivesse assistindo um filme. Quando cheira a grama, ela quer fazer xixi. E quando late olhando para alguma coisa, as vezes a gente entende o que ela quer.

Você acha que é sua responsabilidade educar o cão?

– Se for meu, sim. Porque aí ela não avança nos outros, não foge e sabe o que pode e o que não pode. E quando vamos dar alguma coisa ela sabe esperar e não vem comendo tudo. É importante para ela não pegar coisa que não deve.

Você sabe como se comunicar com um cão?

– As vezes. Eu vou falando e ela fica latindo e quando ela olha, eu sei o que ela quer. Não chegar tão rápido, deixar ele chegar a mão. Perguntar para a dona se ele bravo ou manso e se você pode dar carinho.

O que você acha de ajudar os cães da Dog Adventure?

– Bem legal, porque aí a gente pode conhecer novos cães e ensinar eles a ficarem com humanos, novas pessoas, crianças. E a gente pode se comunicar com os cachorros bem.

 

Precisa de ajuda com seu cão e a interação dele com crianças? A consulta comportamental pode te auxiliar no processo!

 

Agradecimentos especiais à Paola e Pietro.

 

Autora: Tatiana Nassif   

Qual a relação entre inteligência emocional nos humanos e o bem- estar dos cães?

Qual o papel do tutor e do profissional da área pet diante disso?

Por algum tempo propagou-se a idéia de que cães queriam ser líderes de sua matilha a todo custo e dominá-los seria necessário para estabelecer uma hierarquia e uma convivência de respeito com os seres humanos. Hoje sabemos que esse pensamento é ultrapassado e equivocado. A organização social do cão doméstico é como uma unidade familiar, muito parecida com o que nós chamamos de família mesmo (falamos sobre isso em um dos nossos primeiros textos:  O que é família multi – espécie?). Por serem animais sociais, eles precisam manter a coesão do grupo e para isso são necessárias habilidades apaziguadoras, a fim evitar conflitos e, mais do que isso, comportamentos de colaboração.

Empatia e estresse: uma via de mão dupla

Para que a convivência entre humanos e cães pudesse se fortalecer ao longo do processo de domesticação, os cães desenvolveram uma alta capacidade de compreender as emoções humanas. Por serem tão próximos afetivamente de nós, os cães podem não apenas decifrar o que sentimentos, mas também se contagiar por nossas emoções. Por isso se diz que “o cão é como um espelho” e acredite, existe ciência por trás disso tudo.

Empatia intra e interespecífica, ou seja, dentro de uma mesma espécie e entre espécies diferentes (como no caso de humanos e cães), é a pré-disposição de compartilhar e compreender emoções do outro. E essa emoção passa a ser experienciada como verdadeira em nós mesmos. Envolve um sincronismo motor e emocional que influencia a afetividade entre os dois indivíduos. Essa ligação é variável de acordo com o grau de vinculação entre os dois e a intensidade da emoção vivida. Os comportamentos pró- sociais são:

  • Mímica
  • Consolo
  • Compreensão
  • Companheirismo
  • Reações motoras e fisiológicas (e subjetivas)

Estudos recentes mediram níveis de estresse e personalidade de tutores de pets e descobriram que essa sincronia emocional acontece de forma mais profunda do que se imaginava. Tutores que apresentam níveis elevados de cortisol, o hormônio do estresse, possuem cães com esses níveis mais elevados também. O efeito dessa condição passa a ser visível no comportamento do cão mais ansioso, reativo, hiperativo ou como comportamentos compulsivos, por exemplo.

Inteligência emocional, auto – cuidado e o apoio profissional

Esse conhecimento é fundamental para compreender a relação entre tutor e cão e possíveis mudanças comportamentais que venham a surgir. Muitas vezes há uma tendência a culpabilizar o cão por seus comportamentos, mas a “posse responsável” exige um movimento genuíno do tutor em reconhecer suas próprias dificuldades emocionais. Momentos de ansiedade, insegurança, frustração e depressão (que são naturais na vida humana) poderão facilmente influenciar o cachorro. Procurar ajuda profissional para os dois pode ser muito importante para o bem-estar e para a manutenção de uma boa convivência.

Em ambiente de creche para cães, o acompanhamento com os tutores nessas fases de maior sensibilidade emocional familiar, é crucial para a estabilidade do comportamento do cão. Por consequência, a regulação da matilha também pode ser influenciada já que o contagio emocional também acontece na via cão – cão. Muitas vezes, serviços de apoio podem ser indicados como o adestramento, a consulta comportamental, o uso de florais, feromônio terapia, acupuntura e natação.

E como tudo isso influência o profissional da saúde e do comportamento animal?  Médicos veterinários e cuidadores pet estão junto com outros profissionais de saúde humana, educação e segurança pública que possuem os maiores índices de desgaste emocional associado ao trabalho.  Além da capacitação técnica voltada ao animal, inteligência emocional e auto- cuidado são fundamentais para que o profissional possa encontrar o caminho para acessar os cães e suas famílias de maneira diferencial. O exercício físico e a meditação já se provaram técnicas mais que efetivas, mas cuidados básicos como alimentação e repouso apropriado não podem ser deixados de lado, assim como o cuidado com o relacionamento em equipe.

Tatiana Nassif

Meu filhote chegou, e agora?

Garantir que você e seu filhote estejam indo no caminho certo é importante para uma vida em harmonia e parceria.

Você escolheu o filhote que tanto sonhou? Ou ganhou esse presente inesquecível? Quem sabe se comoveu e resgatou um filhote? Independente de como aconteceu essa história tão especial, veja o que você precisa para trilhar um bom relacionamento com seu cão.

Se prepare e busque por conhecimento

Conviver com um ser de outra espécie é trabalhoso, mesmo sendo o cachorro que já convive com as famílias humanas a tantos anos. Os cães são muito inteligentes e amáveis, mas precisam de uma série de cuidados que envolvem tempo, dinheiro e dedicação dos tutores. São cuidados desde os mais básicos (alimentação, abrigo, banhos, brinquedos, passeio, antipulgas, vacinas), alguns outros cuidados que você até parou para pensar que podem vir a ser necessários em algum momento (creche, adestramento, consultas veterinárias, medicamentos) e cuidados mais complexos que não estão no planejamento inicial de ninguém, mas podem fazer parte do pacote do que é “básico para o seu cão” (especialistas veterinários e comportamentalistas, exames, tratamentos regulares, dentre outros).

E tem mais…você precisa aprender sobre as necessidades dos cães quanto a:

  • gasto de energia
  • estimulação mental
  • comportamentos naturais e instintivos
  • socialização
  • comunicação
  • emoções
  • processo de aprendizagem

O nosso mini curso Porque o cão é o melhor amigo do homem? Como tornar-se o melhor amigo dele também? vai te preparar para esse processo.

Aceite as particularidades do seu cão e trabalhe com elas

Apesar de no senso comum falarmos em cães e pensarmos neles com base em suas raças (ou não-raça), cada cão é um indivíduo único. Existem uma diversidade de fatores genéticos e orgânicos que vão moldar o temperamento e a personalidade do cão, assim como cada uma das experiências de vida que ele tiver. Você sem dúvida, será parte fundamental desse processo e da continuidade dele.

Mas entenda que uma parte do processo não esta em seu total controle e que talvez algumas das expectativas que você criou inicialmente não serão atendidas. Sua flexibilidade evitará que você persista em erros ou que hajam prejuízos no relacionamento com seu novo melhor amigo. Não hesite em procurar ajuda profissional se estiver passando por alguma dificuldade, quando antes, melhor. A boa notícia é que muitas das suas expectativas serão atendidas e tantas outras coisas boas que você nem vislumbrou vão surgir desse novo e encantador relacionamento.

Escola para filhote na Dog Adventure

Tendo em vista todas essas particularidades, fomos pioneiros no desenvolvimento de uma escola para filhotes que respeita as necessidades e limitações deles e ao mesmo tempo acredita no seu potencial. Essa fase inicial é crucial no desenvolvimento da personalidade do seu melhor amigo e estimulá-lo adequadamente irá refletir em toda sua vida. Na Dog Adventure seu cão terá todo o cuidado e preparo necessário durante esse período através de atividades e treinos exclusivos para se tornar um cão saudável física, mental e socialmente. 

Conheça as indicações e benefícios da escola de filhotes:

  • aproveitamento da janela de aprendizado para socialização com cães e pessoas,
  • habituação com ambientes, sons e objetos,
  • estimulação sensorial e cognitiva,
  • gasto de energia,
  • treino de preparo para banhos, natação e consulta veterinária,
  • direcionamento de mordida,
  • previne contra agressividade,
  • evita síndrome de ansiedade de separação,
  • previne comportamentos compulsivos, latidos excessivos e diversos outros desvios de comportamento.

Se parece muita coisa para seguir sozinho, indicamos a orientação familiar para filhotes através da consulta comportamental ou o suporte matriculando seu melhor amigo na escola de filhotes.

Tatiana Nassif

Cachorro também tem adolescência?

Disciplina para evitar estresse, conhecimento para redirecionar os comportamentos e flexibilidade emocional são os 3 principais pontos para superar esse momento ao lado do seu cachorro.

Você já deve ter convivido com um adolescente humano e se lembra de como essa fase por ter sido difícil para o adolescente e, consequentemente, para a sua família. Mas será que algo parecido acontece com os cachorros? Esse é um momento de mudança natural e inevitável. A impressão que temos quando o cão está próximo dessa idade é que parece ter se esquecido de alguns aprendizados ou que prefere passar por cima deles sem hesitar. Os principais sinais que os tutores relatam são:

  • está hiperativo
  • desobedece as regras aprendidas
  • destrói a casa
  • perde a concentração rapidamente
  • fica irritado e intolerante
  • está reativo ou agressivo

A verdade é que nessa idade os cães estão sobrecarregados. Existem mudanças hormonais, físicas e do desenvolvimento cerebral acontecendo e eles precisam aprender a lidar com uma nova forma de ver o mundo. Algumas dúvidas aparecem e as prioridades mudam, mas na maioria dos casos eles estão sob efeito de algo maior e não é intencional quando muitas vezes nos pegamos pensando: “ele esta fazendo de propósito”.

Apesar de já terem atingido o porte final, as estruturas ósseas ainda estão se ajustando e isso gera uma alteração postural, no centro de gravidade e equilíbrio, o que pode ocasionar alguns incômodos e dores. Com isso, eles podem ficar mais cansados e irritados, não querer contato físico ou responder negativamente a ele. Os cães passam a apresentar mais sensibilidade a ruídos e influenciar o estado de vigília e o sono (cães com fobia de barulhos serão mais atingidos ainda). As mudanças hormonais ocasionam uma nova forma de processar as informações do ambiente, gerando alterações na cognição, na aprendizagem e na resposta de comportamentos já aprendidos. Comportamentos associados ao sistema de “luta e fuga” estão a flor da pele e isso aumenta comportamentos de risco como a motricidade (correr, cavar e escalar, por exemplo) e a interação com outros cães (montar, testar limites e habilidades comunicacionais). Aumentam também comportamentos de exploração do ambiente e o uso da boca em geral, incluindo a vocalização.

Devido a quantidade de raças de cachorro, portes, origens, temperamentos, é difícil estipular uma faixa etária para esse período. Com base em nossa experiência, observamos que a maioria dos cães entra na adolescência por volta de 1 ano e 2 meses e permanece nela até 1 ano e 8 meses aproximadamente, podendo acontecer mais cedo ou mais tarde do que isso. Geralmente cães menores amadurecem mais rápido, mas não sentem tanto essa fase como os cães de grande porte. Boa parte disso está relacionada a maneira com que são criados pelos tutores, mas também as condições físicas. Outra influência significativa é a raça, suas tendências sociais e estrutura óssea. Porém, cada dog é único e irá enfrentar essa fase de uma maneira particular.

O ambiente familiar

Dar ao cão opções de gasto de energia física e mental, além da oportunidade de exercer comportamentos naturais (a creche da Dog Adventure pode ajudar nesse ponto) é indispensável. Tão importante quanto, é a qualidade do sono para a reorganização fisiológica e emocional do cão (conforto, temperatura adequada e pouco barulho são alguns dos pontos a serem garantidos). Observe também o deslocamento do cão nos diferentes tipos de piso, pois pode levar a insegurança e dores se escorregadio. Interações saudáveis que respeitem o cão podem fazer toda a diferença, veja mais no item abaixo.

Proximidade e contato com humanos e cães

Procure ler os sinais que o cão dá para respeitá-los (você pode ler mais sobre sinais aqui: Reconheça os sinais que os cães dão). Insistir em um contato com o qual ele não está a vontade nesse momento pode ser estressante. Lembre-se que ter companhia nem sempre envolve querer contato físico, especialmente nesse momento de maior sensibilidade. Observe também possíveis reações de incomodo com a coleira.

Nutrição, roer e lamber

Ofereça uma alimentação de qualidade e balanceada. Como complemento, ofereça enriquecimentos alimentares para desenvolver a parte sensorial, gerar curiosidade e satisfação. Use a abuse de brinquedos para roer e lamber que reduzem os hormônios do estresse e aumento o de prazer.

Movimento e exercício físico

A atividade física é fundamental para os cães, assim como momentos de repouso, recuperação e relaxamento. Procure encontrar um equilíbrio e evitar fadiga ou sobrecarga que poderão trazer como consequência dor e reatividade. Atividades sem impacto e que promovam foco e relaxamento como a natação podem ser muito benéficas (leia mais sobre Natação para cães).

Reduzir estímulos e frustrações

Estimule o que o cão tem feito certo e reduza as chances de fracasso se ele apresentar dificuldades em assimilar comandos, tolerar determinados estímulos ambientais e até sociais. Essa é uma fase de desafios inacessíveis para nós, mas que não devem ser esquecidos Observe também elementos que podem estar fora de seu controle, mas que talvez existam maneiras de ameniza-los como um ruído de uma obra ou as ondas de um aparelho eletrônico (como discutimos no texto Como os cães percebem o mundo?). Nesse momento o importante é promover estabilidade reduzindo situações que gerem ansiedade, medo e excitação.

Problemas de saúde

Monitore regularmente problemas de saúde que possam prejudicar o bem-estar do cão e se somar a uma fase já sensível para eles. Questões ortopédicas, alergias e problemas gástricos são comuns e poderão desencadear reações mais intensas do peludo. Redobre a atenção se o cão já possui um histórico que exija maiores cuidados.

O papel do tutor

Compreender e aceitar o seu cão é o primeiro ponto para poder ajudá-lo em qualquer fase de sua vida. Traços emocionais que algumas vezes são percebidos em filhotes, podem ajudar a traçar um plano para minimizar as dificuldades da adolescência ou da vida adulta. A escola de filhotes pode ajudar nesse processo, mas algumas experiências muito precoces da vida intrauterina, de cuidados maternos e convivência com a ninhada possuem um valor muito significativo para o cão. Em casos mais extremos como cães que passaram por situação de escassez em suas necessidades básicas ou traumas, os efeitos podem ser ainda maiores. Procurar ajuda de um especialista pode ser a melhor escolha a fazer. Para a maioria dos cães, as habilidades aprendidas anteriormente, estarão acessíveis e o comportamento tende a voltar a seu padrão “normal” após a adolescência. Porém, isso dependerá de como essa fase será vivenciada e da rede de suporte que o cão terá para isso: família, adestrador, creche, veterinário trabalhando em conjunto.

Tatiana Nassif

O que é família multi- espécie?

Conheça mais a fundo a transformação familiar que estamos vivendo com nossos cães

Família multi- espécie é um termo que designa um grupo social composto por animais humanos e não humanos convivendo juntos, e mais do que isso, tendo uma relação afetiva que considera a todos como membros de uma família. As configurações familiares da modernidade são as mais variadas e os cães, gatos, pássaros, entre outros, fazem parte delas. Cada vez mais os animais estão vivendo na intimidade do nosso lar sendo companhias insubstituíveis.

Humanos e cães tem um vínculo diferenciado que vem sendo cultivado há muito tempo e que acabou gerando mudanças significativas na própria espécie canina. Esse longo período significa uma coevolução entre as espécies. Portanto, a influência entre os dois é mútua e não seria possível dissociar uma coisa da outra. O cão foi selecionado pelos humanos há milhares de anos para diferentes funções que facilitariam seu cotidiano.

Porém, como seres mamíferos e sociais que somos, acabamos despertados pelo desejo de cuidado e adotamos esses peludos para a convivência afetiva e não somente com um objetivo funcional. Esse processo de transformação dos seres e da relação, é um processo que continua a ocorrer, nesse exato momento, no nosso contexto familiar.

Atualmente, o comportamento canino é completamente dependente do comportamento humano quando falamos de cães domésticos vivendo dentro de casa. Por isso, é tão difícil padronizar o comportamento canino como igual para todos, ele é plástico (quase tão complexo como o humano). O comportamento se define pela genética individual, mas em boa parte pelo ambiente e pelas relações a sua volta (ou seja, por sua família multi -espécie).

Além disso, os cães foram selecionados com base em suas raças, o que faz com que se tenham mais uma variação comportamental dentro da própria espécie canina. Outro ponto curioso é que estudos mostram que os aspectos culturais de diferentes regiões influenciam como os cães são criados e, portanto, influenciam o comportamento que expressam.


Os laços afetivos intensos entre os animais e os humanos podem ser motivados pelas dificuldades emocionais que as pessoas sentem na sociedade atual: como forma de suprir a falta de um casamento rompido, de filhos que saírem de casa, do ritmo e espaços restrito das grandes cidades, do anseio profissional dentre outras. A relação entre tutor e cão é tão forte que algumas vezes eles compartilham dos mesmos problemas de saúde e comportamento.

Outras vezes, essa relação não é tão aparente, mas o cão desenvolve questões comportamentais como alternativas para lidar com o convívio familiar nem sempre saudável. Estudos mostram que os níveis de estresse dos tutores induzem os cães a se sentirem mais estressados e, com isso, alguns comportamentos indesejados podem surgir. Por isso, na consulta comportamental e no adestramento, a participação do tutor é fundamental para a mudança comportamental do cão.  

BENEFÍCIOS DA RELAÇÃO HUMANO – CÃO


Todo mundo sempre soube o bem que os animais de estimação nos fazem, mas estudos também comprovaram os benefícios das interações humano-cão:

  • Redução da frequência cardíaca
  • Diminuição da pressão arterial
  • Melhora o progresso e a severidade de doenças cardíacas
  • Catalisa a expressão das emoções
  • Potencializa o foco e atenção
  • Reduz ansiedade e medo,
  • Tranquilizador em quadros graves como depressão, bipolaridade, esquizofrenia e psicose
  • Suporte social (sensação de conforto e catalizador de novas relações)
  • Instrumento vivo no desenvolvimento geral e na para aprendizagem (novas formas de pensar e agir)
  • Redução de estresse e Bornout
  • Maior controle na progressão de doenças degenerativas

São benefícios bio-psico-emocionais que também pode ser vivenciados na atuação profissional com cães.

Quanto ao benefício da família multi- espécie para os cães, vai além da sobrevivência básica (comida, água e abrigo). Cães são seres altamente sociáveis e a impossibilidade de estar em interação pode ser um dos pontos mais críticos em seu bem-estar. Estudos mostram que a partir de 4h de isolamento, o cão já demonstra sinais de sofrimento, incluindo alteração na respiração, por exemplo. Mas o contato social de qualidade com humanos é só uma parcela do que promove uma boa vida aos cães. Eles também precisam de interação com outros cães, diversão, estímulos mentais e sensoriais, atividade física, explorar novos ambientes…

A creche para cães entra nesse contexto como um apoio muito importante, tanto para reduzir o distanciamento social dos cães, como para ser um ambiente saudável física, emocional e mentalmente. Se dedicar a atender as necessidades dos cães em sua totalidade  envolve reconhecer o cão como individuo, com suas vontades e limitações e, para isso alguma vezes, é preciso suprimir expectativas humanas ou superar as dificuldades do mundo moderno em prol do seu melhor amigo. 

Tatiana Nassif e Olivia Miranda

 
 

A comunicação entre humanos e cães

Se comunicar é a chave de qualquer relacionamento

Muitas das dificuldades de relacionamento que surgem entre tutores e cães acontece por falhas na comunicação. Por serem espécies diferentes, se comunicar com eficiência pode ser um grande entrave na convivência. Mas na verdade, a comunicação pode ser mais simples do que parece. Assim com nós humanos, os cães são seres sociais e se comunicar é crucial para sobrevivência. Devido a coevolução que existiu entre cães e humanos, diferentes estratégias de comunicação foram desenvolvidas entre os dois. Com um pouco de conhecimento sobre a essência canina e a capacidade de entender seu ponto de vista e suas limitações, esse ruído da comunicação pode ser reduzido e melhorar significativamente o relacionamento.

A maioria das formas de comunicação é determinada geneticamente, mas muitas dependem da prática social para se estabelecer corretamente, não é diferente com os cães. Seja para se relacionar com outros cães ou com os seres humanos, é preciso experimentar e trocar com o outro. E como toda prática, se não for realizada desde cedo e com regularidade, a comunicação pode se tornar uma característica um pouco atrofiada.

Saiba como se entender melhor com seu cachorro

É importante compreender como funcionam os sentidos nos cães, pois é através deles que eles decifram o mundo (e isso inclui os seres humanos ao seu redor). O olfato é o espectro mais importante para eles e tem um papel crucial na comunicação. Eles compreendem muito sobre o ambiente em que estão, sobre estímulos se aproximando ou se afastando e sobre como o outro esta se sentindo. Os cães podem compreender a comunicação humana sentindo cheiros (mesmo que você não queira…eles percebem seus hormônios de alegria ou de medo). Esse sentido muitas vezes é intangível para o humano, quase inútil na comunicação.

Enquanto humanos naturalmente utilizam a voz para se comunicar, essa é uma das últimas instâncias usadas pelos cães socialmente. Na realidade, os cães descobriram que vocalizar era bastante efetivo para chamar a atenção do ser humano, mas usam vocalizações com outros cachorros somente em casos muito pontuais. E enquanto um fala, alguém precisa estar escutando. A audição entra como um sentido fundamental para os cães uma vez que podem compreender o tom emocional que seus tutores empregam ao falar com eles. Cães são bem sensíveis auditivamente e podem perceber até mudanças respiratórias de ordem emocional, como em um momento de ansiedade. Da mesma forma, os cães possuem diversos tons para vocalizar e a intensidade e frequência em que usam pode ser interpretada com base em como estão se sentido.

A visão é um sentido muito importante para as duas espécies, especialmente para os cães já que a maior parte da comunicação acontece através de expressão corporal. Os cães leem nossos movimentos com muita facilidade e reconhecem nossos padrões. Sabem distinguir expressões faciais e seguir o direcionamento do seu olhar. Da mesma forma fazem em encontros com outros cães. Cabe ao ser humano fazer o mesmo esforço e estudo sobre os sinais de comunicação caninos.

Mas tudo se resume aos sentidos? E quando um dos indivíduos tem alguma defasagem sensorial? A comunicação fica um pouco mais limitada, mas não impedida completamente. Outros recursos podem substituir a tendência normal das espécies e novas percepções são afloradas para compensar. Porém, nesses casos é preciso um cuidado especial para garantir uma boa socialização desde cedo e bastante emprenho em conhecer o seu melhor amigo.

Conhecer o comportamento canino é fundamental para tentar simular situações mais próximas com sua natureza e influenciá-los efetivamente através da comunicação em qualquer contexto (brincar, se movimentar, se calmar e outros). Na comunicação com cães é preciso uma análise global para compreender seu estado emocional e a sua motivação através de do comportamento que estão mostrando, assim como devemos usar diferentes estratégias para comunicar a eles o que desejamos. Veja abaixo algumas opções que podem ser melhor trabalhadas entre vocês.

Como humanos se comunicam com os cães?

  • Postura corporal
  • Expressão facial
  • Motricidade do corpo (a forma de se locomover e velocidade)
  • Direcionamento de olhar
  • Apontar o dedo
  • Induzir com movimentos
  • Vocalizações
  • Comandos
  • Sinais de apaziguamento
  • Silêncio/ ignorar
  • Percepção de odores, hormônios e ritmo de respiração (acontece naturalmente)

Como os cães se comunicam com os humanos?

  • Expressão corporal
  • Motricidade do corpo (a forma de se locomover e velocidade)
  • Sinais de apaziguamento
  • Vocalizações
  • Interações corporais (patadas, mordidas, apoio de corpo e outros)
  • Direcionamento de olhar
  • Expressão facial
  • Silêncio
  • Movimentação pelo espaço
  • Emoções
  • Outros comportamentos a serem interpretados

Está com dificuldade de se relacionar com seu cão? Temos alguns serviços que podem ser um bom apoio como a creche canina e a consulta comportamental.