O que é família multi- espécie?

Conheça mais a fundo a transformação familiar que estamos vivendo com nossos cães

Família multi- espécie é um termo que designa um grupo social composto por animais humanos e não humanos convivendo juntos, e mais do que isso, tendo uma relação afetiva que considera a todos como membros de uma família. As configurações familiares da modernidade são as mais variadas e os cães, gatos, pássaros, entre outros, fazem parte delas. Cada vez mais os animais estão vivendo na intimidade do nosso lar sendo companhias insubstituíveis.

Humanos e cães tem um vínculo diferenciado que vem sendo cultivado há muito tempo e que acabou gerando mudanças significativas na própria espécie canina. Esse longo período significa uma coevolução entre as espécies. Portanto, a influência entre os dois é mútua e não seria possível dissociar uma coisa da outra. O cão foi selecionado pelos humanos há milhares de anos para diferentes funções que facilitariam seu cotidiano.

Porém, como seres mamíferos e sociais que somos, acabamos despertados pelo desejo de cuidado e adotamos esses peludos para a convivência afetiva e não somente com um objetivo funcional. Esse processo de transformação dos seres e da relação, é um processo que continua a ocorrer, nesse exato momento, no nosso contexto familiar.

Atualmente, o comportamento canino é completamente dependente do comportamento humano quando falamos de cães domésticos vivendo dentro de casa. Por isso, é tão difícil padronizar o comportamento canino como igual para todos, ele é plástico (quase tão complexo como o humano). O comportamento se define pela genética individual, mas em boa parte pelo ambiente e pelas relações a sua volta (ou seja, por sua família multi -espécie).

Além disso, os cães foram selecionados com base em suas raças, o que faz com que se tenham mais uma variação comportamental dentro da própria espécie canina. Outro ponto curioso é que estudos mostram que os aspectos culturais de diferentes regiões influenciam como os cães são criados e, portanto, influenciam o comportamento que expressam.


Os laços afetivos intensos entre os animais e os humanos podem ser motivados pelas dificuldades emocionais que as pessoas sentem na sociedade atual: como forma de suprir a falta de um casamento rompido, de filhos que saírem de casa, do ritmo e espaços restrito das grandes cidades, do anseio profissional dentre outras. A relação entre tutor e cão é tão forte que algumas vezes eles compartilham dos mesmos problemas de saúde e comportamento.

Outras vezes, essa relação não é tão aparente, mas o cão desenvolve questões comportamentais como alternativas para lidar com o convívio familiar nem sempre saudável. Estudos mostram que os níveis de estresse dos tutores induzem os cães a se sentirem mais estressados e, com isso, alguns comportamentos indesejados podem surgir. Por isso, na consulta comportamental e no adestramento, a participação do tutor é fundamental para a mudança comportamental do cão.  

BENEFÍCIOS DA RELAÇÃO HUMANO – CÃO


Todo mundo sempre soube o bem que os animais de estimação nos fazem, mas estudos também comprovaram os benefícios das interações humano-cão:

  • Redução da frequência cardíaca
  • Diminuição da pressão arterial
  • Melhora o progresso e a severidade de doenças cardíacas
  • Catalisa a expressão das emoções
  • Potencializa o foco e atenção
  • Reduz ansiedade e medo,
  • Tranquilizador em quadros graves como depressão, bipolaridade, esquizofrenia e psicose
  • Suporte social (sensação de conforto e catalizador de novas relações)
  • Instrumento vivo no desenvolvimento geral e na para aprendizagem (novas formas de pensar e agir)
  • Redução de estresse e Bornout
  • Maior controle na progressão de doenças degenerativas

São benefícios bio-psico-emocionais que também pode ser vivenciados na atuação profissional com cães.

Quanto ao benefício da família multi- espécie para os cães, vai além da sobrevivência básica (comida, água e abrigo). Cães são seres altamente sociáveis e a impossibilidade de estar em interação pode ser um dos pontos mais críticos em seu bem-estar. Estudos mostram que a partir de 4h de isolamento, o cão já demonstra sinais de sofrimento, incluindo alteração na respiração, por exemplo. Mas o contato social de qualidade com humanos é só uma parcela do que promove uma boa vida aos cães. Eles também precisam de interação com outros cães, diversão, estímulos mentais e sensoriais, atividade física, explorar novos ambientes…

A creche para cães entra nesse contexto como um apoio muito importante, tanto para reduzir o distanciamento social dos cães, como para ser um ambiente saudável física, emocional e mentalmente. Se dedicar a atender as necessidades dos cães em sua totalidade  envolve reconhecer o cão como individuo, com suas vontades e limitações e, para isso alguma vezes, é preciso suprimir expectativas humanas ou superar as dificuldades do mundo moderno em prol do seu melhor amigo. 

Tatiana Nassif e Olivia Miranda