Qual a relação entre inteligência emocional nos humanos e o bem- estar dos cães?

Qual o papel do tutor e do profissional da área pet diante disso?

Por algum tempo propagou-se a idéia de que cães queriam ser líderes de sua matilha a todo custo e dominá-los seria necessário para estabelecer uma hierarquia e uma convivência de respeito com os seres humanos. Hoje sabemos que esse pensamento é ultrapassado e equivocado. A organização social do cão doméstico é como uma unidade familiar, muito parecida com o que nós chamamos de família mesmo (falamos sobre isso em um dos nossos primeiros textos:  O que é família multi – espécie?). Por serem animais sociais, eles precisam manter a coesão do grupo e para isso são necessárias habilidades apaziguadoras, a fim evitar conflitos e, mais do que isso, comportamentos de colaboração.

Empatia e estresse: uma via de mão dupla

Para que a convivência entre humanos e cães pudesse se fortalecer ao longo do processo de domesticação, os cães desenvolveram uma alta capacidade de compreender as emoções humanas. Por serem tão próximos afetivamente de nós, os cães podem não apenas decifrar o que sentimentos, mas também se contagiar por nossas emoções. Por isso se diz que “o cão é como um espelho” e acredite, existe ciência por trás disso tudo.

Empatia intra e interespecífica, ou seja, dentro de uma mesma espécie e entre espécies diferentes (como no caso de humanos e cães), é a pré-disposição de compartilhar e compreender emoções do outro. E essa emoção passa a ser experienciada como verdadeira em nós mesmos. Envolve um sincronismo motor e emocional que influencia a afetividade entre os dois indivíduos. Essa ligação é variável de acordo com o grau de vinculação entre os dois e a intensidade da emoção vivida. Os comportamentos pró- sociais são:

  • Mímica
  • Consolo
  • Compreensão
  • Companheirismo
  • Reações motoras e fisiológicas (e subjetivas)

Estudos recentes mediram níveis de estresse e personalidade de tutores de pets e descobriram que essa sincronia emocional acontece de forma mais profunda do que se imaginava. Tutores que apresentam níveis elevados de cortisol, o hormônio do estresse, possuem cães com esses níveis mais elevados também. O efeito dessa condição passa a ser visível no comportamento do cão mais ansioso, reativo, hiperativo ou como comportamentos compulsivos, por exemplo.

Inteligência emocional, auto – cuidado e o apoio profissional

Esse conhecimento é fundamental para compreender a relação entre tutor e cão e possíveis mudanças comportamentais que venham a surgir. Muitas vezes há uma tendência a culpabilizar o cão por seus comportamentos, mas a “posse responsável” exige um movimento genuíno do tutor em reconhecer suas próprias dificuldades emocionais. Momentos de ansiedade, insegurança, frustração e depressão (que são naturais na vida humana) poderão facilmente influenciar o cachorro. Procurar ajuda profissional para os dois pode ser muito importante para o bem-estar e para a manutenção de uma boa convivência.

Em ambiente de creche para cães, o acompanhamento com os tutores nessas fases de maior sensibilidade emocional familiar, é crucial para a estabilidade do comportamento do cão. Por consequência, a regulação da matilha também pode ser influenciada já que o contagio emocional também acontece na via cão – cão. Muitas vezes, serviços de apoio podem ser indicados como o adestramento, a consulta comportamental, o uso de florais, feromônio terapia, acupuntura e natação.

E como tudo isso influência o profissional da saúde e do comportamento animal?  Médicos veterinários e cuidadores pet estão junto com outros profissionais de saúde humana, educação e segurança pública que possuem os maiores índices de desgaste emocional associado ao trabalho.  Além da capacitação técnica voltada ao animal, inteligência emocional e auto- cuidado são fundamentais para que o profissional possa encontrar o caminho para acessar os cães e suas famílias de maneira diferencial. O exercício físico e a meditação já se provaram técnicas mais que efetivas, mas cuidados básicos como alimentação e repouso apropriado não podem ser deixados de lado, assim como o cuidado com o relacionamento em equipe.

Tatiana Nassif