Por que a convivência entre crianças e cães requer atenção?

Saiba o que é importante do ponto de vista profissional, da criança e do doguinho!

Crianças amam pets e ajudar os peludos a desenvolver uma relação saudável com eles é um processo que deve-se dedicar tempo. A chegada de um filhote em uma família com presença de crianças pode ser um desafio. Afinal, é nessa fase que o cão começa a perceber o ambiente a seu redor e a criar comportamentos que irão lhe acompanhar em sua vida adulta.

Entender como o cão se comunica e ajudá-lo a se habituar com o convívio de humanos é essencial para um relacionamento saudável na família multiespécie.

O processo de socialização com crianças é uma das técnicas que ajudam os filhotes a se desenvolverem na presença deste pequenos. Aqui na Dog Adventure realizamos uma atividade de enriquecimento e vinculação com crianças, onde usamos processos lúdicos para gerar uma associação positiva entre eles. Isso ajuda os doguinhos a se acostumarem com a energia mais agitada das crianças, seu tom de voz e toque.

Os benefícios para o filhote:
  • Fortalece comportamentos saudáveis para a vida adulta
  • O cão aprende a descriminar o que é correto e tem recursos de outros comportamentos mais apropriados para que possa interagir melhor com o convívio humano
  • Se habitua com a presença da criança no ambiente (sons, velocidade de movimento e outras particularidades)

E o aprendizado não é só para nossos AUlunos, durante a socialização ensinamos as crianças a respeitarem os cães e até lerem alguns sinais de comunicação que os cães dão!

O papel da criança nessa relação:
  • Perceber sua expressão corporal,
  • Como manter o autocontrole sobre as emoções,
  • Adequar a postura e a maneira de olhar e falar com o cão
  • Respeitar os limites e realizar a aproximação apenas com a permissão do cão
  • Conscientização sobre comportamentos que não devem ser endossados (como a mordida por exemplo – é preciso direcionar o cão para outra brincadeira o ambiente)

Entrevista com nossos monitores mirins

O que te faz gostar de cães?

– Quando a gente tá entediado, ele brinca com a gente e dá mais alegria. Ele tambem protege a casa.

Você sente algum medo quando um cão de médio/grande porte se aproxima?

-Quando rosna, sim. Só quando rosna ou late. Eu já corro. Mas aí que ele corre atrás.

Que tipos de brincadeiras você gosta de praticar com os cães?

– Adestramento, bolinha, brincar na piscina. E brincar na chuva.

Você entende que os cães também tem emoções?

– Sim, quando ele rosna é porque não quer que faça alguma coisa. Quando eles cheiram é como se tivesse assistindo um filme. Quando cheira a grama, ela quer fazer xixi. E quando late olhando para alguma coisa, as vezes a gente entende o que ela quer.

Você acha que é sua responsabilidade educar o cão?

– Se for meu, sim. Porque aí ela não avança nos outros, não foge e sabe o que pode e o que não pode. E quando vamos dar alguma coisa ela sabe esperar e não vem comendo tudo. É importante para ela não pegar coisa que não deve.

Você sabe como se comunicar com um cão?

– As vezes. Eu vou falando e ela fica latindo e quando ela olha, eu sei o que ela quer. Não chegar tão rápido, deixar ele chegar a mão. Perguntar para a dona se ele bravo ou manso e se você pode dar carinho.

O que você acha de ajudar os cães da Dog Adventure?

– Bem legal, porque aí a gente pode conhecer novos cães e ensinar eles a ficarem com humanos, novas pessoas, crianças. E a gente pode se comunicar com os cachorros bem.

 

Precisa de ajuda com seu cão e a interação dele com crianças? A consulta comportamental pode te auxiliar no processo!

 

Agradecimentos especiais à Paola e Pietro.

 

Autora: Tatiana Nassif   

Cachorro também tem adolescência?

Disciplina para evitar estresse, conhecimento para redirecionar os comportamentos e flexibilidade emocional são os 3 principais pontos para superar esse momento ao lado do seu cachorro.

Você já deve ter convivido com um adolescente humano e se lembra de como essa fase por ter sido difícil para o adolescente e, consequentemente, para a sua família. Mas será que algo parecido acontece com os cachorros? Esse é um momento de mudança natural e inevitável. A impressão que temos quando o cão está próximo dessa idade é que parece ter se esquecido de alguns aprendizados ou que prefere passar por cima deles sem hesitar. Os principais sinais que os tutores relatam são:

  • está hiperativo
  • desobedece as regras aprendidas
  • destrói a casa
  • perde a concentração rapidamente
  • fica irritado e intolerante
  • está reativo ou agressivo

A verdade é que nessa idade os cães estão sobrecarregados. Existem mudanças hormonais, físicas e do desenvolvimento cerebral acontecendo e eles precisam aprender a lidar com uma nova forma de ver o mundo. Algumas dúvidas aparecem e as prioridades mudam, mas na maioria dos casos eles estão sob efeito de algo maior e não é intencional quando muitas vezes nos pegamos pensando: “ele esta fazendo de propósito”.

Apesar de já terem atingido o porte final, as estruturas ósseas ainda estão se ajustando e isso gera uma alteração postural, no centro de gravidade e equilíbrio, o que pode ocasionar alguns incômodos e dores. Com isso, eles podem ficar mais cansados e irritados, não querer contato físico ou responder negativamente a ele. Os cães passam a apresentar mais sensibilidade a ruídos e influenciar o estado de vigília e o sono (cães com fobia de barulhos serão mais atingidos ainda). As mudanças hormonais ocasionam uma nova forma de processar as informações do ambiente, gerando alterações na cognição, na aprendizagem e na resposta de comportamentos já aprendidos. Comportamentos associados ao sistema de “luta e fuga” estão a flor da pele e isso aumenta comportamentos de risco como a motricidade (correr, cavar e escalar, por exemplo) e a interação com outros cães (montar, testar limites e habilidades comunicacionais). Aumentam também comportamentos de exploração do ambiente e o uso da boca em geral, incluindo a vocalização.

Devido a quantidade de raças de cachorro, portes, origens, temperamentos, é difícil estipular uma faixa etária para esse período. Com base em nossa experiência, observamos que a maioria dos cães entra na adolescência por volta de 1 ano e 2 meses e permanece nela até 1 ano e 8 meses aproximadamente, podendo acontecer mais cedo ou mais tarde do que isso. Geralmente cães menores amadurecem mais rápido, mas não sentem tanto essa fase como os cães de grande porte. Boa parte disso está relacionada a maneira com que são criados pelos tutores, mas também as condições físicas. Outra influência significativa é a raça, suas tendências sociais e estrutura óssea. Porém, cada dog é único e irá enfrentar essa fase de uma maneira particular.

O ambiente familiar

Dar ao cão opções de gasto de energia física e mental, além da oportunidade de exercer comportamentos naturais (a creche da Dog Adventure pode ajudar nesse ponto) é indispensável. Tão importante quanto, é a qualidade do sono para a reorganização fisiológica e emocional do cão (conforto, temperatura adequada e pouco barulho são alguns dos pontos a serem garantidos). Observe também o deslocamento do cão nos diferentes tipos de piso, pois pode levar a insegurança e dores se escorregadio. Interações saudáveis que respeitem o cão podem fazer toda a diferença, veja mais no item abaixo.

Proximidade e contato com humanos e cães

Procure ler os sinais que o cão dá para respeitá-los (você pode ler mais sobre sinais aqui: Reconheça os sinais que os cães dão). Insistir em um contato com o qual ele não está a vontade nesse momento pode ser estressante. Lembre-se que ter companhia nem sempre envolve querer contato físico, especialmente nesse momento de maior sensibilidade. Observe também possíveis reações de incomodo com a coleira.

Nutrição, roer e lamber

Ofereça uma alimentação de qualidade e balanceada. Como complemento, ofereça enriquecimentos alimentares para desenvolver a parte sensorial, gerar curiosidade e satisfação. Use a abuse de brinquedos para roer e lamber que reduzem os hormônios do estresse e aumento o de prazer.

Movimento e exercício físico

A atividade física é fundamental para os cães, assim como momentos de repouso, recuperação e relaxamento. Procure encontrar um equilíbrio e evitar fadiga ou sobrecarga que poderão trazer como consequência dor e reatividade. Atividades sem impacto e que promovam foco e relaxamento como a natação podem ser muito benéficas (leia mais sobre Natação para cães).

Reduzir estímulos e frustrações

Estimule o que o cão tem feito certo e reduza as chances de fracasso se ele apresentar dificuldades em assimilar comandos, tolerar determinados estímulos ambientais e até sociais. Essa é uma fase de desafios inacessíveis para nós, mas que não devem ser esquecidos Observe também elementos que podem estar fora de seu controle, mas que talvez existam maneiras de ameniza-los como um ruído de uma obra ou as ondas de um aparelho eletrônico (como discutimos no texto Como os cães percebem o mundo?). Nesse momento o importante é promover estabilidade reduzindo situações que gerem ansiedade, medo e excitação.

Problemas de saúde

Monitore regularmente problemas de saúde que possam prejudicar o bem-estar do cão e se somar a uma fase já sensível para eles. Questões ortopédicas, alergias e problemas gástricos são comuns e poderão desencadear reações mais intensas do peludo. Redobre a atenção se o cão já possui um histórico que exija maiores cuidados.

O papel do tutor

Compreender e aceitar o seu cão é o primeiro ponto para poder ajudá-lo em qualquer fase de sua vida. Traços emocionais que algumas vezes são percebidos em filhotes, podem ajudar a traçar um plano para minimizar as dificuldades da adolescência ou da vida adulta. A escola de filhotes pode ajudar nesse processo, mas algumas experiências muito precoces da vida intrauterina, de cuidados maternos e convivência com a ninhada possuem um valor muito significativo para o cão. Em casos mais extremos como cães que passaram por situação de escassez em suas necessidades básicas ou traumas, os efeitos podem ser ainda maiores. Procurar ajuda de um especialista pode ser a melhor escolha a fazer. Para a maioria dos cães, as habilidades aprendidas anteriormente, estarão acessíveis e o comportamento tende a voltar a seu padrão “normal” após a adolescência. Porém, isso dependerá de como essa fase será vivenciada e da rede de suporte que o cão terá para isso: família, adestrador, creche, veterinário trabalhando em conjunto.

Tatiana Nassif

Como escolher um cachorro?

O que é importante considerar para tomar a decisão certa ao escolher ter um cachorro, e mais, como escolher esse melhor amigo dentre tantas opções?

Nos dias de hoje, grande parte das pessoas não se vê sem um bichinho de estimação. Mais de 50% dos lares brasileiros possuem um cão ou um gato como membro da família. Essa realidade revela muito sobre nós mesmos, o que procuramos e até como lidamos com a vida em alguns aspectos. Escrevemos um pouco mais sobre isso no texto O que é família multi-espécie. Mas como escolher o cachorro que irá compor a sua família?

Pensando em uma convivência saudável e harmoniosa, trazer um novo cão para nosso lar deve ser algo bem planejado. É muito importante que esse novo membro da família tenha um perfil semelhante ao seu e que todos os outros membros de sua família estejam de acordo e dispostos a cuidar também do novo cãozinho. Lembre de considerar membros que ainda não existem, mas que possam estar em seus planos como um bebê, por exemplo, uma pessoa de idade que vá morar com você ou um funcionário.

Veja alguns pontos para uma boa avaliação de sua família e das suas expectativas para escolher um cachorro:

  • Disponibilidade de espaço: Qual é seu tipo de moradia? Como é sua vizinhança? Qual seria o cantinho do seu cão? Onde ele faria as necessidades? Procure mapear esses detalhes, isso te ajudará a fazer uma escolha mais consciente e com menos chances de dificuldades depois.
  • Custos: Qual valor você pretende investir nesse novo membro da sua família? Considere pelo menos os custos básicos como vacinas anuais, antiparasitários regulares, brinquedos, comida, caminha, mas calcule uma reserva para consultas médicas, exames, especialistas, medicamentos, creche, passeador, adestrador…
  • Tamanho do cachorro: o porte o cão terá influência nos dois itens anteriores. Por exemplo, cães maiores comem mais, possuem dosagens de medicação mais altas e precisam de mais espaço (que pode ser compensado, dentre outros benefícios, com a contratação da creche para cães). Mas a conta não é tão clara assim, um cão grande e saudável pode gerar menos custos do que um cão pequeno de imunidade debilitada. O item abaixo trará alguns traços fundamentais para uma escolha que pode minimizar esse tipo de desgaste do cão e da família.
  • Raça e tendências comportamentais: cada raça foi criada com um objetivo e junto deste objetivo, diversas características físicas e comportamentais foram selecionadas. Existem mais de 400 raças de cachorro, cada uma com suas tendências, mas é importante saber que cada cão é um indivíduo com personalidade única (mesmo sendo da mesma raça e da mesma ninhada). Conheça um pouco mais sobre raças e como analisa-las para sua família em nosso mini- curso “Porque o cão é o melhor amigo do homem? Como tornar-se o melhor amigo dele também?”
  • Tipo de pelagem: a pelagem tem relação com custos (banho, tosa, cuidados especiais) e com disponibilidade de tempo da família para escovação diária e limpeza da casa por causa dos pelos mortos que caem. Cães bem escovados, independente da pelagem, fazem menos sujeira. Porém, cães de pelagem curta soltam mais pelos enquanto os de pelagem longa formam nós na pelagem se não escovados com regularidade (não somente no banho) ocasionando dor e problemas de pele.
  • O seu perfil e de sua família: como você visualiza o tempo para atividades em conjunto com o cachorro? E o que você espera do seu cão quando sozinho? Seja honesto nesse momento, esse ponto pode ser determinante para um bom relacionamento. Veja algumas reflexões que podem te ajudar: caso você goste fazer caminhadas, estar em contato com a natureza, precisa de um cão com nível de energia média/alta e pelagem fácil de cuidar. Se você é esportista, adora correr no parque, andar de bicicleta ou skate, precisará de um cão com energia alta/muito alta, com personalidade confiante e facilmente adestrável. Mas se seu perfil é curtir um sofá e maratonar séries, com certeza precisará de um cão de energia mais baixa. Se você é daqueles que não para em casa, tem vida social ativa, considere um cão pequeno que possa ir junto com você para qualquer luar ou que tenha maior facilidade de ficar sozinho, quem sabe até considere ter mais de um cão para fazerem companhia um para o outro. Se você tem crianças ou deseja formar uma família, procure por cães pacientes, raças adestráveis e de energia média/alta.

Alguns desses pontos são mais fáceis de serem analisados quando estamos falando de uma escolha de um cão de raça, pois sabemos como ele será fisicamente e como é boa parte da genética dele. Mas em caso de adoção de cachorro, como posso proceder?

A adoção é um ato lindo de amor, mas adotar um filhote sem raça definida demanda que a família esteja mais aberta a se adaptar ao perfil do filhote uma vez que não é possível prever tão facilmente seu tamanho e traços de sua personalidade. A maioria das pessoas procura por filhotes para acompanhar seu crescimento e essa é uma fase muito divertida e apaixonante realmente. Porém, ela vem com uma série de responsabilidade como assumir o processo de educação básica e socialização do animal que é demandante, mas também determinante para o equilíbrio emocional do seu melhor amigo.

Adotando um animal adulto, você já saberá quais as principais características dele e quais combinam com as suas. Além disso, estará contribuindo para dar um lar e uma família a cães com menores chances. Junto com tamanha grandeza prepara-se para se dedicar a uma fase de adaptação importante, incluindo a possibilidade de tratar alguns problemas comportamentais. Geralmente adultos adotados passaram por experiências traumáticas, seja frio, fome, maus tratos ou até mesmo a troca repetitiva de ambiente e famílias anteriores.

Conhecer a raça (ou a mescla de raças de seu futuro vira-lata), o histórico familiar do cão (pais e ninhada) e mesmo o ambiente do canil ou do abrigo em que ele viveu, vai trazer informações sobre as experiências que o cão passou, o que aprendeu ou deixou de aprender. Independentemente de seu passado, saiba que ao assumir um cachorro, você deve assumir também uma posse responsável sobre ele. É um compromisso pelos próximos 10 anos de sua vida e da sua família para atender as necessidades de saúde e bem-estar do cão garantindo a ele uma vida plena e feliz e a harmonia familiar.

Decidiu ter um cachorro? Precisa de um suporte profissional desse processo, entre em contato conosco.

Olivia Miranda e Tatiana Nassif

Reconheça os sinais que os cães mostram

Conheça os sinais para interpretar o comportamento dos cães e entender o que ele esta sentindo ou querendo te dizer

Como seres sociais, os cães possuem diferentes artifícios comunicacionais (visuais, acústicos, olfativos, químicos e táteis – entenda mais sobre a capacidade sensorial dos cães), mas a expressão corporal é o mais importante deles. Cães usam o corpo intencionalmente para se comunicar, quase nenhum movimento é acidental. Apesar disso, os sinais emitidos por cada parte do corpo precisam ser avaliados em conjunto para compreender as intenções e emoções correspondentes. Orelhas, testa, sobrancelhas, olhos, boca, pescoço, costas, pelos e cauda. Até mesmo o tônus muscular e a inclinação do corpo podem ser sinais relevantes.

Toda forma de se expressar deve ser compreendida de acordo com o contexto ambiental e até mesmo de acordo com a individualidade do cão e seu histórico de aprendizado. Apesar de existirem parâmetros universais na comunicação e comportamento canino, as particularidade não podem ser desconsideradas. Veja um resumo abaixo dos principais pontos que você deve conhecer.

OLHOS

A interpretação do olhar canino é bem parecida com a humana, portanto usar da sensibilidade e da intuição pode ajudar. Mas veja abaixo alguns dos principais olhares aos quais devemos ter atenção:

  • Olhos parcialmente fechados: indicam que o cão esta relaxado
  • Olhos dilatados: ocorrem em baixa luz e em situações de estresse e angústia
  • Olhar fixado (as pupilas contraem, seus olhos permanecem semi abertos e a sobrancelha enruga): sinal de tensão. A fixação do olhar para os cães é interpretada como uma ameaça, por isso evitar olhar diretamente o cão é recomendado para acalma-lo. O mesmo ocorre quando dois cães estão travando contato visual fixamente, pode ser um início de disputa.
  • Olhos de baleia (olhar de lado, as partes brancas dos olhos ficam expostas): acontecem quando o cão está estressado ou se sentindo ameaçado.
ORELHAS

Orelhas dizem muito sobre como o cão esta processando o ambiente ao seu redor e sutis movimentos podem ajudar a compor a leitura com outros sinais.

  • Orelhas relaxadas: ficam susceptíveis ao movimento corporal e não demonstram tensão
  • Orelhas eretas ou semi eretas: o cão está em alerta (para cães de raças com orelhas eretas ou que foram submetidos a cirurgia de corte de orelha terão as orelhas eretas boa parte do tempo e menor mobilidade para as demais posições. Cães com orelhas caídas irão mantê-las mais rígidas e elevadas quando em estado de alerta).
  • Orelhas coladas para trás e achatadas: o cão esta com medo (orelhas para trás, mas não achatadas: demonstram foco e calma)
  • Orelha pitada (com uma dobrinha ao meio- somente visível em cães com orelhas de abano): o cão pode estar estressado, cansado, com dor ou com medo
RABO

Temos forte tendência a observar o rabo dos cães, mas não podemos ler sua posição ou movimento de forma desconexa com o contexto e outros sinais que o cão esteja demonstrando.

  • Ponta do rabo levemente para cima: alerta e excitação
  • Rabo ereto em nível acima das costas: sugere excitação e confiança (algumas raças possuem o rabo ereto normalmente, como o Husky. É preciso conhecer as raças para fazer a análise correta).
  • Rabo em bandeira (bem acima das costas): sinal de tensão quando junto com as orelhas para trás e as patas tensas
  • Rabo abaixo das costas caído: desconforto ou cansaço
  • Rabo entre as pernas: medo ou estresse (mesmo em cães sem rabo, é possível notar o esforço para cobrir o esfíncter)

Lateralidade do abanar de rabo nos cães: estímulos em que se espera a aproximação do cão (como ao ver o seu tutor) são associados à maior amplitude de balanço do rabo para o lado direito. A mesma predominância de lateralidade ocorre quando um cão é colocado diante de um humano desconhecido ou de um gato, porém com menor amplitude. Já quando diante de um cão com risco de disputa, o balanço do rabo tem amplitude maior para o lado esquerdo. Em geral, a velocidade do abanar de rabo mostra interesse e agitação, enquanto o abanar mais lento mostra relaxamento. Porém, o abanar lento e tenso, indica desconforto e a possibilidade de reação do cachorro.

LOCOMOÇÃO

A maneira como o cão se locomove (ou o fato de não se locomover) pode comunicar algo relevante não apenas quanto as suas motivações, mas ao bem-estar canino. A locomoção também nos diz sobre o interesse do cão em se aproximar ou se afastar de algo.

  • Parado: o cão pode estar simplesmente em repouso e pode estar, também, evitando situações, desconfortável ou premeditando um ataque
  • Caminhar (o cão mantem 3 patas sempre no chão):  passadas constantes em direção a algo ou apenas circulando livremente
  • Correr ou trote (o cão pode ter 2 ou 1 pata no chão): corrida em ritmo médio com um objetivo específico (uma bolinha por exemplo)
  • Tiro (o cão pode não ter nenhuma pata no chão): indica uma tentativa de fuga ou excitação excessiva
  • Galopes: são corridas mais lentas em que o cão parece “flutuar”, indicam relaxamento
SINAIS DE APAZIGUAMENTO

Os sinais de apaziguamento (também chamados de Sinais de Calma ou Desconforto), apesar da nomenclatura poder gerar confusões, esses sinais comunicam um estado emocional de ansiedade e desconforto e a intenção de minimizar essa emoção. Tem como objetivo inibir, reduzir ou eliminar o comportamento invasivo ou ameaçador do outro. Os sinais indicam medo ou estresse e, ao mesmo tempo, funcionam como calmante tanto para o animal que o emite quanto para os que o observam. Os cães utilizam esses sinais também para se comunicar com os humanos e em maior frequência com cães desconhecidos. Alguns desses sinais acontecem normalmente, como bocejar por sono, chacoalhar quando molhado ou levantar a pata para cães de aponte ou que sejam treinados para esse comando, por isso a importância de se avaliar o contexto e não somente o sinal em si.

VOCALIZAÇÃO

Quer saber mais sobre os sinais que os cães dão? Então leia um pouquinho sobre vocalização. As vocalizações dos cães podem ser bem variadas. Geralmente, quanto mais grave o som emitido, maior o tom de ameaça que o som expressa. Quanto maior a frequência, maior a urgência do sinal sonoro. É claro que a emoção envolvida tem base na perspectiva do cachorro. Algumas sutilezas das vocalizações (frequência e variações) podem ser imperceptíveis para o ouvido humano, mas não para o outro cão, por isso é fundamental observar os demais sinais quando se trata de interações entre dois cães. E saiba, o silêncio também é uma forma de comunicação!

Principais motivos para a vocalização de um cão doméstico:

  • Para se comunicar com a família que está fora da sua vista: eles vocalizam para informar para outros cães ou humanos a sua localização, é um comportamento social para se manter em contato com o resto do grupo. Outros cães podem latir de volta
  • Para dar o alarme: cães latem ou rosnam para avisar ao grupo que há um perigo ou um intruso no território
  • Para comunicar emoção ou desejo: cães vão utilizar a vocalização para comunicar várias emoções, estados e desejos, como dor, medo, ansiedade, frustração ou diversão
  • Evitar agressão: algumas vocalizações são intensificadas como uma tentativa de evitar o conflito físico

Como os cães percebem o mundo?

Para entender a percepção canina una conhecimento, observação e empatia

A nossa interação com o ambiente acontece a todo momento, portanto, somos também influenciados constante. Da mesma forma, os cães são afetados positivamente ou negativamente. Os elementos ambientais podem ser diversos e, muita vezes, não é necessária uma ação proposital para gerar alguma efeito. Através dos sentidos, o cão capta informações do meio e reage a elas mesmo que de forma passiva. Devido as diferenças entre humanos e cães, nem sempre conseguimos ter a dimensão de como o espaço está sendo sentido e compreendido por eles. Inclusive, os sentidos podem sofrer alterações em seu nível de capacidade de acordo com as condições climáticas. Um movimento de atenção, observação e expansão de pensamento se faz necessário para tentarmos compreender os cães. Junto disso, vamos explorar do que os sentidos deles são capazes para processar informações do mundo externo.

Olfato

O olfato é a principal forma de captação e decodificação das informações do ambeinte. A capacidade olfativa de cão é pelo menos 6x maior que a humana. Não é de se admirar que eles parem para cheirar coisas que para nós não fazem o menor sentido. Devido a grande diversidade de raças, existem diferenças no alcance olfativo dos peludos. Os doligocefalicos (cães de focinho longo) tem cerca de o dobro da capacidade dos braquicefálicos (cães focinho achatado). Cães maiores também tem mais capacidade olfativa do que comparados aos menores (devido a quantidade de receptores que cabem em seu focinho). Até a pelagem pode ser um indicativo, cães de pelagem clara tem olfato mais apurado que os de pelagem escura. Além disso, algumas raças que foram selecionadas para o trabalho de faro podem possuir mais capacidade ainda do que os demais. O olfato é um fator fundamental na comunicação entre cães e identificação individual dos cães. Leia mais sobre comunicação canina.

Você sabe o que são feromônios caninos?

Feromônios são substâncias químicas naturais e voláteis exaladas instintivamente pelos cães em determinadas situações e que agem como sinais que podem ser percebidos a centenas de metros por outros cães (o ser humano não possui capacidade sensorial de perceber os feromônios caninos). É uma substância que tem influência fisiológica sobre outro indivíduo e que desencadeia uma reação hormonal. Já existem no mercado alguns feromônios sintéticos que tem como objetivo tratamento terapêutico. Conheça onde ficam as glândulas que secretam feromônios e em qual a sua principal atuação no corpo e nos indivíduos ao redor:

  • Faciais: sinais de comportamento social
  • Ouvidos: sinais de segurança e autoafirmação
  • Digitais: marcação de território e alarme
  • Mamárias: para orientar filhotes e áreas de segurança
  • Genitais: sinais reprodutivos e de marcação territorial
  • Anal: comunicação de identidade, marcação de território e alarme.

Audição

Os cães escutam timbres e sons não audíveis ao humano, podendo perceber elementos ocorrendo em longa distância e avaliam a proximidade (ou não) com base na altura. São também capazes de absorver informações espaciais com base na repercussão do som no local. Isso significa que quando achamos que está silêncio, ainda deve haver barulhos sendo percebidos, e talvez, incômodos aos cães. Quando achamos que um som esta baixo, provavelmente esteja alto para eles. A orelha funciona como um captador do som e sua movimentação permite a captação de sons vindos de diferentes direções. Ao inclinar a cabeça o som entra de maneira diferente ampliando a percepção animal (por isso os filhotes fazem aquela virada de cabeça diante de barulhos novos). Há variações na capacidade sensorial entre as raças, cães de orelhas em pé tendem a ser mais sensíveis que os de orelha caída (assim como cães com cirurgias de corte de orelha).

 Visão

A visão não é dos sentidos mais apurados nos cães e é bem inferior a capacidade humana. Eles enxergam em escalas de cinza, amarelo e azul. Dessa forma, podem ter dificuldade em perceber alguns elementos dependendo do contraste com o fundo que estão. Como compensação, possuem uma maximização da capacidade de enxergar no escuro e leem as imagens em câmera lenta, o que os torna mais ágeis ao responder a estímulos.

Apesar de não tão bem desenvolvida, a visão é relevante para a comunicação animal através da expressão corporal. A leitura da movimentação do corpo, posicionamento de orelha, olhar rabo, incluindo sinais de apaziguamento é muito importante para o bom relacionamento entre cães e dos cães com as pessoas. Portanto, as cirurgias estéticas (amputação de rabo e corte de orelhas, hoje já proibidas em alguns locais) são comprometedoras podendo dificultar a comunicação entre os cães.

As características de algumas raças também envolve prejuízo nessa comunicação como o corpo compacto dos Buldogues que esconde sutilezas de inclinação, os olhos caído dos Basset Hound que dificultam a visão e a leitura dos outros cães, as rugas dos Sharpei e Pug limitando expressões faciais, a pelagem na frente dos olhos de Shihtzu e outros. As raças também apresentam variação na amplitude de seu campo de visão sendo os braquicefálicos com menor amplitude lateral que os de focinho longo, o que se dá pela localização dos olhos mais lateralizados (ao mesmo tempo, o focinho pode vir a ser um obstáculo em algumas situações). Outra característica interessante de se considerar é o porte do cão para avaliar a amplitude de seu campo de visão (cães mais altos tem um campo visual mais amplo do que os menores).

Tato

O tato envolve o apoio convencional (patas) e o tipo de superfície que apoiam podendo gerar algum tipo de aversão ou preferência, bem como outras partes do corpo. Já percebeu com as vezes os cães nos surpreendem escolhendo posições para deitar ou forma de se aproximar? O tato é também uma forma de interação e manutenção social através da aproximação e contato físico com outros indivíduos seja de caráter afetivo ou comunicativo.

O tato está associado também a percepção de temperatura. Envolve a capacidade para sentir pressão e vibração de forma mais sensível que a humana. Cães “pressentem” mudanças climáticas devido a pressão atmosférica e reagem a vibrações de solo (e som). Os receptores estão na base dos pelos tácteis chamados vibrissas (longos, rígidos e vascularizados e inervados). São eles: Supraciliares, Igmáticos, Labias, Queixo, Mandibulares. As raças apresentam variações em quantidade e tamanho das vibrissas que são, também protetivas a face.

Gustativo

A gustação do cão é bem menor que a humana. Devido a natureza predadora e carniceira dos cães, eles são curiosos e gulosos. Geralmente não são muito seletivos, mas aprendem rapidamente que podem conseguir coisas mais interessantes e manipulam algumas situações. As percepções de paladar dos cães são: salgado, doce, ácido, amargo e umami (exaltador de paladar dos demais gostos). Estes são os locais em que os sabores são sentido na língua: doce (ponta esquerda), salgado (ponta inteira), amargo (fundo), ácido (laterais), umami (tudo).

Agora que você possui informações suficientes, se coloque no lugar dos cães para entender como ele processa o mundo em que vocês vivem. Esse movimento pode mudar muito a relação entre vocês.

Tatiana Nassif e Olivia Miranda