Já parou para pensar se o nome do meu cachorro quer dizer algo sobre ele?

Como as pessoas escolhem o nome de seus cães? Essa escolha tem relação com a maneira que eles se comportam?

Quando as pessoas quererem ter cães como membros de sua família, a maioria é guiada por um sentimento de amor incondicional e certa valorização social sendo seus objetivos conscientes e inconscientes: a companhia, o passatempo e a imagem social. A escolha do cão geralmente é guiada por uma percepção de complementariedade ou identificação, ou seja, tutores buscam em seus cães algo diferente de si que os complementa ou procuram características que percebem como semelhantes a si mesmo por afinidade.

Cada relação entre tutor e cão é muito particular, mas pode ser mais profunda do que parece. Enquanto alguns possuem uma relação simbiótica que vai da convivência de mutuo respeito até a de dependência, outros criam uma dinâmica de transferência de sentimentos que pode determinar o rumo da relação e do comportamento do cão. É importante lembrar que assim como as pessoas possuem personalidades e experiências que as tornam singulares, os cães também são determinados por uma séria de fatores (genética, fisiologia hormonal, química cerebral, os efeitos do desenvolvimento inicial e aprendizado, respostas condicionadas, encontros estressantes com outros indivíduos, dentre outros fatores). A relação humano – cão é a junção de dois seres únicos e, ainda, de diferentes espécies.

Mas o que o nome do cachorro tem com isso?

O que caracteriza um pet é exatamente o fato de receber um nome. Os nomes conceitualizam os seres como indivíduos e demarcam essa relação afetivo vincular com seus tutores. O nome é um tipo de representação mental do outro, de como se espera que sejam ou de como de fato são. Portanto, o processo de escolha do nome de um cachorro esta impregnado de expectativas de seus tutores quanto aquele cão. Essas expectativas são construídas através da união de questões que estão no nível da consciência, do inconsciente pessoal e do inconsciente coletivo. Estudos dizem que pais nomeiam seus filhos narcisicamente, com base em seus desejos, necessidades, idealizações, faltas etc.

Com os cães não seria diferente, tutores usam a imaginação, inspiração, humor, fantasia e liberdade de expressão para escolher o nome do seu melhor amigo. O processo de nomeação dos cães é bem parecido com a escolha de apelidos, algumas das categorias comuns para isso são: comparações físico/anatômicas, intenção afetuosa, originário de outros nomes carregados de significados, herdados como referência, ocorridos em circunstâncias acidentais, comportamentais ou com objetivo de transladação de sentido.

Um nome pode falar sobre vocês dois…

Descobriu-se em um estudo que 40% das pessoas não ter pensam em NADA enquanto 60% pensaram em adjetivos ou motivações para nomear seus cães. Tutores que “não pensam em nada” ficam sob efeito do inconsciente individual e coletivo e muitas vezes são guiados pela simbologia sem nem se dar conta disso. O exercício de lembrar o que cada um pensou no momento de escolher um nome pode ser desafiador, mas geralmente as pessoas atribuem adjetivos associados a: aparência (cor, pelagem, tamanho), força, docialidade e beleza dentre uma gama enorme de outros.

A criatividade dos tutores é impressionante e a quantidade de nomes escolhidos é bastante diversificada. Porém, essas são as principais categorias em que se encontram os nomes caninos:

  • Personagem: nomes de personalidades ou personagens mitológicos, de filmes, desenhos e outros que mostram a expectativas de acordo com a história
  • Nomes Comuns Brasileiros: de grafia e sonoridade tipicamente brasileira que estão associados ao sentimento de pertença x segregação. Normalmente são carregados de humor e simplicidade também.
  • Nomes Comuns Estrangeiros: de grafia e sonoridade não reconhecida como tipicamente brasileira, podendo ser de origens diversas e que podem indicar uma tentativa de diferenciação, valorização e projeção de emoções
  • Nomes tipicamente caninos: baseados no estereótipo social e na idealização da relação interespécie
  • Aparência Física: nomes associados a porte, cor, pelagem ou outra característica física do animal
  • Outros: alimentos, lugares, outros   

Ficou curioso para saber os nomes mais comuns? De acordo com o estudo de 2019, os nomes mais comuns para as fêmeas dentre os participantes foram:

  • Mel
  • Nina
  • Luna
  • Amora
  • Cacau

E para os machos:

  • Thor
  • Chico
  • Max
  • Marley
  • Ozzy

Concluindo, o nome canino é um indicador das expectativas do tutor, por isso, pode ser uma incrível ferramenta de apoio de trabalho para profissionais da área pet, especialmente nas análises para intervenções familiares.

E como isso tudo se relaciona com o comportamento canino?

Pelo fato dos cães reconhecerem expressões faciais, vocalizações em tom emocional e odores do ser humano, além de conseguirem interpretar e o significado do comportamento humano em geral, possuem habilidades para moldar seu comportamento de acordo com o que é esperado deles. Isso não significa que eles queiram fazer isso ou mesmo que seja sempre adequado, mas de maneira geral, é essa característica que permitiu a convivência e a coevolução entre as espécies. Dentro de um família emocionalmente saudável, espera-se que com o tempo haja cada vez mais uma congruência comunicacional e emocional, o que acaba por influenciar o comportamento do cachorro.

Outra grande curiosidade é que estudos mostraram que as características do tutor são mais importantes na configuração da relação interespecífica (entre as espécies) do que as do próprio cão. Isso significa que quem você é, o que acredita, deseja ou faz tem forte influência em quem seu cão irá se tornar. É claro que existem exceções como em situações de fortes traumas vividos pelo cão ou de forte pré-disposição genética. Ainda assim, a vinculação entre tutor e cão é mais afetada pela quebra das expectativas do tutor do que por motivações associadas ao comportamento canino, mesmo quando falamos em “problemas comportamentais dos cães”.

É melhor garantir que esteja fazendo tudo direitinho, não é? Continue acompanhando nosso blog e nossas redes sociais para ter acesso a mais conteúdo!

Tatiana Nassif

O que é família multi- espécie?

Conheça mais a fundo a transformação familiar que estamos vivendo com nossos cães

Família multi- espécie é um termo que designa um grupo social composto por animais humanos e não humanos convivendo juntos, e mais do que isso, tendo uma relação afetiva que considera a todos como membros de uma família. As configurações familiares da modernidade são as mais variadas e os cães, gatos, pássaros, entre outros, fazem parte delas. Cada vez mais os animais estão vivendo na intimidade do nosso lar sendo companhias insubstituíveis.

Humanos e cães tem um vínculo diferenciado que vem sendo cultivado há muito tempo e que acabou gerando mudanças significativas na própria espécie canina. Esse longo período significa uma coevolução entre as espécies. Portanto, a influência entre os dois é mútua e não seria possível dissociar uma coisa da outra. O cão foi selecionado pelos humanos há milhares de anos para diferentes funções que facilitariam seu cotidiano.

Porém, como seres mamíferos e sociais que somos, acabamos despertados pelo desejo de cuidado e adotamos esses peludos para a convivência afetiva e não somente com um objetivo funcional. Esse processo de transformação dos seres e da relação, é um processo que continua a ocorrer, nesse exato momento, no nosso contexto familiar.

Atualmente, o comportamento canino é completamente dependente do comportamento humano quando falamos de cães domésticos vivendo dentro de casa. Por isso, é tão difícil padronizar o comportamento canino como igual para todos, ele é plástico (quase tão complexo como o humano). O comportamento se define pela genética individual, mas em boa parte pelo ambiente e pelas relações a sua volta (ou seja, por sua família multi -espécie).

Além disso, os cães foram selecionados com base em suas raças, o que faz com que se tenham mais uma variação comportamental dentro da própria espécie canina. Outro ponto curioso é que estudos mostram que os aspectos culturais de diferentes regiões influenciam como os cães são criados e, portanto, influenciam o comportamento que expressam.


Os laços afetivos intensos entre os animais e os humanos podem ser motivados pelas dificuldades emocionais que as pessoas sentem na sociedade atual: como forma de suprir a falta de um casamento rompido, de filhos que saírem de casa, do ritmo e espaços restrito das grandes cidades, do anseio profissional dentre outras. A relação entre tutor e cão é tão forte que algumas vezes eles compartilham dos mesmos problemas de saúde e comportamento.

Outras vezes, essa relação não é tão aparente, mas o cão desenvolve questões comportamentais como alternativas para lidar com o convívio familiar nem sempre saudável. Estudos mostram que os níveis de estresse dos tutores induzem os cães a se sentirem mais estressados e, com isso, alguns comportamentos indesejados podem surgir. Por isso, na consulta comportamental e no adestramento, a participação do tutor é fundamental para a mudança comportamental do cão.  

BENEFÍCIOS DA RELAÇÃO HUMANO – CÃO


Todo mundo sempre soube o bem que os animais de estimação nos fazem, mas estudos também comprovaram os benefícios das interações humano-cão:

  • Redução da frequência cardíaca
  • Diminuição da pressão arterial
  • Melhora o progresso e a severidade de doenças cardíacas
  • Catalisa a expressão das emoções
  • Potencializa o foco e atenção
  • Reduz ansiedade e medo,
  • Tranquilizador em quadros graves como depressão, bipolaridade, esquizofrenia e psicose
  • Suporte social (sensação de conforto e catalizador de novas relações)
  • Instrumento vivo no desenvolvimento geral e na para aprendizagem (novas formas de pensar e agir)
  • Redução de estresse e Bornout
  • Maior controle na progressão de doenças degenerativas

São benefícios bio-psico-emocionais que também pode ser vivenciados na atuação profissional com cães.

Quanto ao benefício da família multi- espécie para os cães, vai além da sobrevivência básica (comida, água e abrigo). Cães são seres altamente sociáveis e a impossibilidade de estar em interação pode ser um dos pontos mais críticos em seu bem-estar. Estudos mostram que a partir de 4h de isolamento, o cão já demonstra sinais de sofrimento, incluindo alteração na respiração, por exemplo. Mas o contato social de qualidade com humanos é só uma parcela do que promove uma boa vida aos cães. Eles também precisam de interação com outros cães, diversão, estímulos mentais e sensoriais, atividade física, explorar novos ambientes…

A creche para cães entra nesse contexto como um apoio muito importante, tanto para reduzir o distanciamento social dos cães, como para ser um ambiente saudável física, emocional e mentalmente. Se dedicar a atender as necessidades dos cães em sua totalidade  envolve reconhecer o cão como individuo, com suas vontades e limitações e, para isso alguma vezes, é preciso suprimir expectativas humanas ou superar as dificuldades do mundo moderno em prol do seu melhor amigo. 

Tatiana Nassif e Olivia Miranda