Disciplina para evitar estresse, conhecimento para redirecionar os comportamentos e flexibilidade emocional são os 3 principais pontos para superar esse momento ao lado do seu cachorro.
Você já deve ter convivido com um adolescente humano e se lembra de como essa fase por ter sido difícil para o adolescente e, consequentemente, para a sua família. Mas será que algo parecido acontece com os cachorros? Esse é um momento de mudança natural e inevitável. A impressão que temos quando o cão está próximo dessa idade é que parece ter se esquecido de alguns aprendizados ou que prefere passar por cima deles sem hesitar. Os principais sinais que os tutores relatam são:
- está hiperativo
- desobedece as regras aprendidas
- destrói a casa
- perde a concentração rapidamente
- fica irritado e intolerante
- está reativo ou agressivo
A verdade é que nessa idade os cães estão sobrecarregados. Existem mudanças hormonais, físicas e do desenvolvimento cerebral acontecendo e eles precisam aprender a lidar com uma nova forma de ver o mundo. Algumas dúvidas aparecem e as prioridades mudam, mas na maioria dos casos eles estão sob efeito de algo maior e não é intencional quando muitas vezes nos pegamos pensando: “ele esta fazendo de propósito”.
Apesar de já terem atingido o porte final, as estruturas ósseas ainda estão se ajustando e isso gera uma alteração postural, no centro de gravidade e equilíbrio, o que pode ocasionar alguns incômodos e dores. Com isso, eles podem ficar mais cansados e irritados, não querer contato físico ou responder negativamente a ele. Os cães passam a apresentar mais sensibilidade a ruídos e influenciar o estado de vigília e o sono (cães com fobia de barulhos serão mais atingidos ainda). As mudanças hormonais ocasionam uma nova forma de processar as informações do ambiente, gerando alterações na cognição, na aprendizagem e na resposta de comportamentos já aprendidos. Comportamentos associados ao sistema de “luta e fuga” estão a flor da pele e isso aumenta comportamentos de risco como a motricidade (correr, cavar e escalar, por exemplo) e a interação com outros cães (montar, testar limites e habilidades comunicacionais). Aumentam também comportamentos de exploração do ambiente e o uso da boca em geral, incluindo a vocalização.
Devido a quantidade de raças de cachorro, portes, origens, temperamentos, é difícil estipular uma faixa etária para esse período. Com base em nossa experiência, observamos que a maioria dos cães entra na adolescência por volta de 1 ano e 2 meses e permanece nela até 1 ano e 8 meses aproximadamente, podendo acontecer mais cedo ou mais tarde do que isso. Geralmente cães menores amadurecem mais rápido, mas não sentem tanto essa fase como os cães de grande porte. Boa parte disso está relacionada a maneira com que são criados pelos tutores, mas também as condições físicas. Outra influência significativa é a raça, suas tendências sociais e estrutura óssea. Porém, cada dog é único e irá enfrentar essa fase de uma maneira particular.
O ambiente familiar
Dar ao cão opções de gasto de energia física e mental, além da oportunidade de exercer comportamentos naturais (a creche da Dog Adventure pode ajudar nesse ponto) é indispensável. Tão importante quanto, é a qualidade do sono para a reorganização fisiológica e emocional do cão (conforto, temperatura adequada e pouco barulho são alguns dos pontos a serem garantidos). Observe também o deslocamento do cão nos diferentes tipos de piso, pois pode levar a insegurança e dores se escorregadio. Interações saudáveis que respeitem o cão podem fazer toda a diferença, veja mais no item abaixo.
Proximidade e contato com humanos e cães
Procure ler os sinais que o cão dá para respeitá-los (você pode ler mais sobre sinais aqui: Reconheça os sinais que os cães dão). Insistir em um contato com o qual ele não está a vontade nesse momento pode ser estressante. Lembre-se que ter companhia nem sempre envolve querer contato físico, especialmente nesse momento de maior sensibilidade. Observe também possíveis reações de incomodo com a coleira.
Nutrição, roer e lamber
Ofereça uma alimentação de qualidade e balanceada. Como complemento, ofereça enriquecimentos alimentares para desenvolver a parte sensorial, gerar curiosidade e satisfação. Use a abuse de brinquedos para roer e lamber que reduzem os hormônios do estresse e aumento o de prazer.
Movimento e exercício físico
A atividade física é fundamental para os cães, assim como momentos de repouso, recuperação e relaxamento. Procure encontrar um equilíbrio e evitar fadiga ou sobrecarga que poderão trazer como consequência dor e reatividade. Atividades sem impacto e que promovam foco e relaxamento como a natação podem ser muito benéficas (leia mais sobre Natação para cães).
Reduzir estímulos e frustrações
Estimule o que o cão tem feito certo e reduza as chances de fracasso se ele apresentar dificuldades em assimilar comandos, tolerar determinados estímulos ambientais e até sociais. Essa é uma fase de desafios inacessíveis para nós, mas que não devem ser esquecidos Observe também elementos que podem estar fora de seu controle, mas que talvez existam maneiras de ameniza-los como um ruído de uma obra ou as ondas de um aparelho eletrônico (como discutimos no texto Como os cães percebem o mundo?). Nesse momento o importante é promover estabilidade reduzindo situações que gerem ansiedade, medo e excitação.
Problemas de saúde
Monitore regularmente problemas de saúde que possam prejudicar o bem-estar do cão e se somar a uma fase já sensível para eles. Questões ortopédicas, alergias e problemas gástricos são comuns e poderão desencadear reações mais intensas do peludo. Redobre a atenção se o cão já possui um histórico que exija maiores cuidados.
O papel do tutor
Compreender e aceitar o seu cão é o primeiro ponto para poder ajudá-lo em qualquer fase de sua vida. Traços emocionais que algumas vezes são percebidos em filhotes, podem ajudar a traçar um plano para minimizar as dificuldades da adolescência ou da vida adulta. A escola de filhotes pode ajudar nesse processo, mas algumas experiências muito precoces da vida intrauterina, de cuidados maternos e convivência com a ninhada possuem um valor muito significativo para o cão. Em casos mais extremos como cães que passaram por situação de escassez em suas necessidades básicas ou traumas, os efeitos podem ser ainda maiores. Procurar ajuda de um especialista pode ser a melhor escolha a fazer. Para a maioria dos cães, as habilidades aprendidas anteriormente, estarão acessíveis e o comportamento tende a voltar a seu padrão “normal” após a adolescência. Porém, isso dependerá de como essa fase será vivenciada e da rede de suporte que o cão terá para isso: família, adestrador, creche, veterinário trabalhando em conjunto.
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