Como escolher um cachorro?

O que é importante considerar para tomar a decisão certa ao escolher ter um cachorro, e mais, como escolher esse melhor amigo dentre tantas opções?

Nos dias de hoje, grande parte das pessoas não se vê sem um bichinho de estimação. Mais de 50% dos lares brasileiros possuem um cão ou um gato como membro da família. Essa realidade revela muito sobre nós mesmos, o que procuramos e até como lidamos com a vida em alguns aspectos. Escrevemos um pouco mais sobre isso no texto O que é família multi-espécie. Mas como escolher o cachorro que irá compor a sua família?

Pensando em uma convivência saudável e harmoniosa, trazer um novo cão para nosso lar deve ser algo bem planejado. É muito importante que esse novo membro da família tenha um perfil semelhante ao seu e que todos os outros membros de sua família estejam de acordo e dispostos a cuidar também do novo cãozinho. Lembre de considerar membros que ainda não existem, mas que possam estar em seus planos como um bebê, por exemplo, uma pessoa de idade que vá morar com você ou um funcionário.

Veja alguns pontos para uma boa avaliação de sua família e das suas expectativas para escolher um cachorro:

  • Disponibilidade de espaço: Qual é seu tipo de moradia? Como é sua vizinhança? Qual seria o cantinho do seu cão? Onde ele faria as necessidades? Procure mapear esses detalhes, isso te ajudará a fazer uma escolha mais consciente e com menos chances de dificuldades depois.
  • Custos: Qual valor você pretende investir nesse novo membro da sua família? Considere pelo menos os custos básicos como vacinas anuais, antiparasitários regulares, brinquedos, comida, caminha, mas calcule uma reserva para consultas médicas, exames, especialistas, medicamentos, creche, passeador, adestrador…
  • Tamanho do cachorro: o porte o cão terá influência nos dois itens anteriores. Por exemplo, cães maiores comem mais, possuem dosagens de medicação mais altas e precisam de mais espaço (que pode ser compensado, dentre outros benefícios, com a contratação da creche para cães). Mas a conta não é tão clara assim, um cão grande e saudável pode gerar menos custos do que um cão pequeno de imunidade debilitada. O item abaixo trará alguns traços fundamentais para uma escolha que pode minimizar esse tipo de desgaste do cão e da família.
  • Raça e tendências comportamentais: cada raça foi criada com um objetivo e junto deste objetivo, diversas características físicas e comportamentais foram selecionadas. Existem mais de 400 raças de cachorro, cada uma com suas tendências, mas é importante saber que cada cão é um indivíduo com personalidade única (mesmo sendo da mesma raça e da mesma ninhada). Conheça um pouco mais sobre raças e como analisa-las para sua família em nosso mini- curso “Porque o cão é o melhor amigo do homem? Como tornar-se o melhor amigo dele também?”
  • Tipo de pelagem: a pelagem tem relação com custos (banho, tosa, cuidados especiais) e com disponibilidade de tempo da família para escovação diária e limpeza da casa por causa dos pelos mortos que caem. Cães bem escovados, independente da pelagem, fazem menos sujeira. Porém, cães de pelagem curta soltam mais pelos enquanto os de pelagem longa formam nós na pelagem se não escovados com regularidade (não somente no banho) ocasionando dor e problemas de pele.
  • O seu perfil e de sua família: como você visualiza o tempo para atividades em conjunto com o cachorro? E o que você espera do seu cão quando sozinho? Seja honesto nesse momento, esse ponto pode ser determinante para um bom relacionamento. Veja algumas reflexões que podem te ajudar: caso você goste fazer caminhadas, estar em contato com a natureza, precisa de um cão com nível de energia média/alta e pelagem fácil de cuidar. Se você é esportista, adora correr no parque, andar de bicicleta ou skate, precisará de um cão com energia alta/muito alta, com personalidade confiante e facilmente adestrável. Mas se seu perfil é curtir um sofá e maratonar séries, com certeza precisará de um cão de energia mais baixa. Se você é daqueles que não para em casa, tem vida social ativa, considere um cão pequeno que possa ir junto com você para qualquer luar ou que tenha maior facilidade de ficar sozinho, quem sabe até considere ter mais de um cão para fazerem companhia um para o outro. Se você tem crianças ou deseja formar uma família, procure por cães pacientes, raças adestráveis e de energia média/alta.

Alguns desses pontos são mais fáceis de serem analisados quando estamos falando de uma escolha de um cão de raça, pois sabemos como ele será fisicamente e como é boa parte da genética dele. Mas em caso de adoção de cachorro, como posso proceder?

A adoção é um ato lindo de amor, mas adotar um filhote sem raça definida demanda que a família esteja mais aberta a se adaptar ao perfil do filhote uma vez que não é possível prever tão facilmente seu tamanho e traços de sua personalidade. A maioria das pessoas procura por filhotes para acompanhar seu crescimento e essa é uma fase muito divertida e apaixonante realmente. Porém, ela vem com uma série de responsabilidade como assumir o processo de educação básica e socialização do animal que é demandante, mas também determinante para o equilíbrio emocional do seu melhor amigo.

Adotando um animal adulto, você já saberá quais as principais características dele e quais combinam com as suas. Além disso, estará contribuindo para dar um lar e uma família a cães com menores chances. Junto com tamanha grandeza prepara-se para se dedicar a uma fase de adaptação importante, incluindo a possibilidade de tratar alguns problemas comportamentais. Geralmente adultos adotados passaram por experiências traumáticas, seja frio, fome, maus tratos ou até mesmo a troca repetitiva de ambiente e famílias anteriores.

Conhecer a raça (ou a mescla de raças de seu futuro vira-lata), o histórico familiar do cão (pais e ninhada) e mesmo o ambiente do canil ou do abrigo em que ele viveu, vai trazer informações sobre as experiências que o cão passou, o que aprendeu ou deixou de aprender. Independentemente de seu passado, saiba que ao assumir um cachorro, você deve assumir também uma posse responsável sobre ele. É um compromisso pelos próximos 10 anos de sua vida e da sua família para atender as necessidades de saúde e bem-estar do cão garantindo a ele uma vida plena e feliz e a harmonia familiar.

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Olivia Miranda e Tatiana Nassif

Reconheça os sinais que os cães mostram

Conheça os sinais para interpretar o comportamento dos cães e entender o que ele esta sentindo ou querendo te dizer

Como seres sociais, os cães possuem diferentes artifícios comunicacionais (visuais, acústicos, olfativos, químicos e táteis – entenda mais sobre a capacidade sensorial dos cães), mas a expressão corporal é o mais importante deles. Cães usam o corpo intencionalmente para se comunicar, quase nenhum movimento é acidental. Apesar disso, os sinais emitidos por cada parte do corpo precisam ser avaliados em conjunto para compreender as intenções e emoções correspondentes. Orelhas, testa, sobrancelhas, olhos, boca, pescoço, costas, pelos e cauda. Até mesmo o tônus muscular e a inclinação do corpo podem ser sinais relevantes.

Toda forma de se expressar deve ser compreendida de acordo com o contexto ambiental e até mesmo de acordo com a individualidade do cão e seu histórico de aprendizado. Apesar de existirem parâmetros universais na comunicação e comportamento canino, as particularidade não podem ser desconsideradas. Veja um resumo abaixo dos principais pontos que você deve conhecer.

OLHOS

A interpretação do olhar canino é bem parecida com a humana, portanto usar da sensibilidade e da intuição pode ajudar. Mas veja abaixo alguns dos principais olhares aos quais devemos ter atenção:

  • Olhos parcialmente fechados: indicam que o cão esta relaxado
  • Olhos dilatados: ocorrem em baixa luz e em situações de estresse e angústia
  • Olhar fixado (as pupilas contraem, seus olhos permanecem semi abertos e a sobrancelha enruga): sinal de tensão. A fixação do olhar para os cães é interpretada como uma ameaça, por isso evitar olhar diretamente o cão é recomendado para acalma-lo. O mesmo ocorre quando dois cães estão travando contato visual fixamente, pode ser um início de disputa.
  • Olhos de baleia (olhar de lado, as partes brancas dos olhos ficam expostas): acontecem quando o cão está estressado ou se sentindo ameaçado.
ORELHAS

Orelhas dizem muito sobre como o cão esta processando o ambiente ao seu redor e sutis movimentos podem ajudar a compor a leitura com outros sinais.

  • Orelhas relaxadas: ficam susceptíveis ao movimento corporal e não demonstram tensão
  • Orelhas eretas ou semi eretas: o cão está em alerta (para cães de raças com orelhas eretas ou que foram submetidos a cirurgia de corte de orelha terão as orelhas eretas boa parte do tempo e menor mobilidade para as demais posições. Cães com orelhas caídas irão mantê-las mais rígidas e elevadas quando em estado de alerta).
  • Orelhas coladas para trás e achatadas: o cão esta com medo (orelhas para trás, mas não achatadas: demonstram foco e calma)
  • Orelha pitada (com uma dobrinha ao meio- somente visível em cães com orelhas de abano): o cão pode estar estressado, cansado, com dor ou com medo
RABO

Temos forte tendência a observar o rabo dos cães, mas não podemos ler sua posição ou movimento de forma desconexa com o contexto e outros sinais que o cão esteja demonstrando.

  • Ponta do rabo levemente para cima: alerta e excitação
  • Rabo ereto em nível acima das costas: sugere excitação e confiança (algumas raças possuem o rabo ereto normalmente, como o Husky. É preciso conhecer as raças para fazer a análise correta).
  • Rabo em bandeira (bem acima das costas): sinal de tensão quando junto com as orelhas para trás e as patas tensas
  • Rabo abaixo das costas caído: desconforto ou cansaço
  • Rabo entre as pernas: medo ou estresse (mesmo em cães sem rabo, é possível notar o esforço para cobrir o esfíncter)

Lateralidade do abanar de rabo nos cães: estímulos em que se espera a aproximação do cão (como ao ver o seu tutor) são associados à maior amplitude de balanço do rabo para o lado direito. A mesma predominância de lateralidade ocorre quando um cão é colocado diante de um humano desconhecido ou de um gato, porém com menor amplitude. Já quando diante de um cão com risco de disputa, o balanço do rabo tem amplitude maior para o lado esquerdo. Em geral, a velocidade do abanar de rabo mostra interesse e agitação, enquanto o abanar mais lento mostra relaxamento. Porém, o abanar lento e tenso, indica desconforto e a possibilidade de reação do cachorro.

LOCOMOÇÃO

A maneira como o cão se locomove (ou o fato de não se locomover) pode comunicar algo relevante não apenas quanto as suas motivações, mas ao bem-estar canino. A locomoção também nos diz sobre o interesse do cão em se aproximar ou se afastar de algo.

  • Parado: o cão pode estar simplesmente em repouso e pode estar, também, evitando situações, desconfortável ou premeditando um ataque
  • Caminhar (o cão mantem 3 patas sempre no chão):  passadas constantes em direção a algo ou apenas circulando livremente
  • Correr ou trote (o cão pode ter 2 ou 1 pata no chão): corrida em ritmo médio com um objetivo específico (uma bolinha por exemplo)
  • Tiro (o cão pode não ter nenhuma pata no chão): indica uma tentativa de fuga ou excitação excessiva
  • Galopes: são corridas mais lentas em que o cão parece “flutuar”, indicam relaxamento
SINAIS DE APAZIGUAMENTO

Os sinais de apaziguamento (também chamados de Sinais de Calma ou Desconforto), apesar da nomenclatura poder gerar confusões, esses sinais comunicam um estado emocional de ansiedade e desconforto e a intenção de minimizar essa emoção. Tem como objetivo inibir, reduzir ou eliminar o comportamento invasivo ou ameaçador do outro. Os sinais indicam medo ou estresse e, ao mesmo tempo, funcionam como calmante tanto para o animal que o emite quanto para os que o observam. Os cães utilizam esses sinais também para se comunicar com os humanos e em maior frequência com cães desconhecidos. Alguns desses sinais acontecem normalmente, como bocejar por sono, chacoalhar quando molhado ou levantar a pata para cães de aponte ou que sejam treinados para esse comando, por isso a importância de se avaliar o contexto e não somente o sinal em si.

VOCALIZAÇÃO

Quer saber mais sobre os sinais que os cães dão? Então leia um pouquinho sobre vocalização. As vocalizações dos cães podem ser bem variadas. Geralmente, quanto mais grave o som emitido, maior o tom de ameaça que o som expressa. Quanto maior a frequência, maior a urgência do sinal sonoro. É claro que a emoção envolvida tem base na perspectiva do cachorro. Algumas sutilezas das vocalizações (frequência e variações) podem ser imperceptíveis para o ouvido humano, mas não para o outro cão, por isso é fundamental observar os demais sinais quando se trata de interações entre dois cães. E saiba, o silêncio também é uma forma de comunicação!

Principais motivos para a vocalização de um cão doméstico:

  • Para se comunicar com a família que está fora da sua vista: eles vocalizam para informar para outros cães ou humanos a sua localização, é um comportamento social para se manter em contato com o resto do grupo. Outros cães podem latir de volta
  • Para dar o alarme: cães latem ou rosnam para avisar ao grupo que há um perigo ou um intruso no território
  • Para comunicar emoção ou desejo: cães vão utilizar a vocalização para comunicar várias emoções, estados e desejos, como dor, medo, ansiedade, frustração ou diversão
  • Evitar agressão: algumas vocalizações são intensificadas como uma tentativa de evitar o conflito físico

O que é família multi- espécie?

Conheça mais a fundo a transformação familiar que estamos vivendo com nossos cães

Família multi- espécie é um termo que designa um grupo social composto por animais humanos e não humanos convivendo juntos, e mais do que isso, tendo uma relação afetiva que considera a todos como membros de uma família. As configurações familiares da modernidade são as mais variadas e os cães, gatos, pássaros, entre outros, fazem parte delas. Cada vez mais os animais estão vivendo na intimidade do nosso lar sendo companhias insubstituíveis.

Humanos e cães tem um vínculo diferenciado que vem sendo cultivado há muito tempo e que acabou gerando mudanças significativas na própria espécie canina. Esse longo período significa uma coevolução entre as espécies. Portanto, a influência entre os dois é mútua e não seria possível dissociar uma coisa da outra. O cão foi selecionado pelos humanos há milhares de anos para diferentes funções que facilitariam seu cotidiano.

Porém, como seres mamíferos e sociais que somos, acabamos despertados pelo desejo de cuidado e adotamos esses peludos para a convivência afetiva e não somente com um objetivo funcional. Esse processo de transformação dos seres e da relação, é um processo que continua a ocorrer, nesse exato momento, no nosso contexto familiar.

Atualmente, o comportamento canino é completamente dependente do comportamento humano quando falamos de cães domésticos vivendo dentro de casa. Por isso, é tão difícil padronizar o comportamento canino como igual para todos, ele é plástico (quase tão complexo como o humano). O comportamento se define pela genética individual, mas em boa parte pelo ambiente e pelas relações a sua volta (ou seja, por sua família multi -espécie).

Além disso, os cães foram selecionados com base em suas raças, o que faz com que se tenham mais uma variação comportamental dentro da própria espécie canina. Outro ponto curioso é que estudos mostram que os aspectos culturais de diferentes regiões influenciam como os cães são criados e, portanto, influenciam o comportamento que expressam.


Os laços afetivos intensos entre os animais e os humanos podem ser motivados pelas dificuldades emocionais que as pessoas sentem na sociedade atual: como forma de suprir a falta de um casamento rompido, de filhos que saírem de casa, do ritmo e espaços restrito das grandes cidades, do anseio profissional dentre outras. A relação entre tutor e cão é tão forte que algumas vezes eles compartilham dos mesmos problemas de saúde e comportamento.

Outras vezes, essa relação não é tão aparente, mas o cão desenvolve questões comportamentais como alternativas para lidar com o convívio familiar nem sempre saudável. Estudos mostram que os níveis de estresse dos tutores induzem os cães a se sentirem mais estressados e, com isso, alguns comportamentos indesejados podem surgir. Por isso, na consulta comportamental e no adestramento, a participação do tutor é fundamental para a mudança comportamental do cão.  

BENEFÍCIOS DA RELAÇÃO HUMANO – CÃO


Todo mundo sempre soube o bem que os animais de estimação nos fazem, mas estudos também comprovaram os benefícios das interações humano-cão:

  • Redução da frequência cardíaca
  • Diminuição da pressão arterial
  • Melhora o progresso e a severidade de doenças cardíacas
  • Catalisa a expressão das emoções
  • Potencializa o foco e atenção
  • Reduz ansiedade e medo,
  • Tranquilizador em quadros graves como depressão, bipolaridade, esquizofrenia e psicose
  • Suporte social (sensação de conforto e catalizador de novas relações)
  • Instrumento vivo no desenvolvimento geral e na para aprendizagem (novas formas de pensar e agir)
  • Redução de estresse e Bornout
  • Maior controle na progressão de doenças degenerativas

São benefícios bio-psico-emocionais que também pode ser vivenciados na atuação profissional com cães.

Quanto ao benefício da família multi- espécie para os cães, vai além da sobrevivência básica (comida, água e abrigo). Cães são seres altamente sociáveis e a impossibilidade de estar em interação pode ser um dos pontos mais críticos em seu bem-estar. Estudos mostram que a partir de 4h de isolamento, o cão já demonstra sinais de sofrimento, incluindo alteração na respiração, por exemplo. Mas o contato social de qualidade com humanos é só uma parcela do que promove uma boa vida aos cães. Eles também precisam de interação com outros cães, diversão, estímulos mentais e sensoriais, atividade física, explorar novos ambientes…

A creche para cães entra nesse contexto como um apoio muito importante, tanto para reduzir o distanciamento social dos cães, como para ser um ambiente saudável física, emocional e mentalmente. Se dedicar a atender as necessidades dos cães em sua totalidade  envolve reconhecer o cão como individuo, com suas vontades e limitações e, para isso alguma vezes, é preciso suprimir expectativas humanas ou superar as dificuldades do mundo moderno em prol do seu melhor amigo. 

Tatiana Nassif e Olivia Miranda